segunda-feira, 13 de julho de 2009

Relatório

Introdução
Considerando o visível crescimento numérico do número de jovens evangélicos no Brasil (crescimento esse já confirmado estatisticamente, como falamos em post anterior), fomos a campo com o objetivo de identificar o que tem atraído essa parcela da população pra dentro das igrejas. Inicialmente, planejamos realizar nossa pesquisa nas igrejas Bola de Neve Church e Universal do Reino de Deus, devido às notáveis inovações que estas têm inserido no meio evangélico. Porém, com o desenrolar da pesquisa, resolvemos nos deter um pouco mais sobre a primeira, pois esta apresenta uma série de elementos de extrema relevância para nossa pesquisa, visto que é majoritariamente composta por jovens.
O nosso trabalho de campo, teve como metodologia a aplicação de 18 questionários compostos por 9 perguntas abertas e uma entrevista ao líder religioso da Igreja Bola de Neve, além da observação participante em 4 cultos da igreja.

Desenvolvimento
Antes de irmos a campo, realizamos contatos telefônicos com a Igreja para explicarmos que éramos estudantes da UFRJ e que desejávamos saber sobre a possibilidade de realizarmos a entrevista e aplicarmos os questionários. Falamos a respeito dos objetivos da nossa pesquisa e fomos orientados a procurar pela líder do grupo de jovens na igreja, a Julia (18 anos).

No dia 31 de maio fomos pela primeira vez ao culto religioso que ocorre aos domingos à noite e tem início às 19:30h. Ao chegarmos a Av. do Pepê nº 1124, nos deparamos com uma fachada, de frente para a praia de Barra da Tijuca, que lembra uma academia: cores vivas e imagens de esportes radicais. À porta, fomos muitíssimo bem recebidas por um grupo de jovens. Perguntamos então pela Julia, que rapidamente foi contatada e veio ao nosso encontro.
Apresentamos-nos a ela e esclarecemos o teor da pesquisa, bem como entregamos a nossa carta de apresentação e aproveitamos para pedir a sua ajuda na orientação em relação à aplicação dos questionários.
Muito solícita, a jovem nos falou um pouco sobre a igreja e nos mostrou o espaço físico: no primeiro pavimento há uma série de cadeiras e dois telões por onde acompanham os cultos, em tempo real, as pessoas que não encontrarem lugar no andar de cima, onde a cerimônia acontece. Além dos telões, há alguns quadros que variam de imagens bíblicas à paisagens de praia. À direita da porta de entrada há uma lojinha onde são vendidos CDs, bíblias, camisas, garrafas térmicas, dentre muitas outras coisas, com o logo da igreja. Há também banheiros, salas onde ocorrem as reuniões das crianças, e um espaço que (apostamos!) tira qualquer evangélico tradicional do sério: uma pista de skate recheada de adolescentes!
No segundo pavimento fica o salão onde acontecem os cultos: na porta de entrada, a imagem de coqueiros e uma maçaneta em forma de prancha. Lá dentro, um amplo espaço com várias fileiras de cadeiras voltadas para o palco com o famoso púlpito em forma de prancha. E mais alguns quadros de praia. No terraço ficam a cantina e algumas mesinhas.
Começa o culto. O período de louvor acontece à meia luz. Um dos membros, sentado ao nosso lado, nos informou que isso acontece para que as pessoas fiquem mais a vontade para expressar seu louvor da maneira que lhe parecer mais apropriada, sem se preocupar que os demais a vejam. As músicas variam entre reggae, rock, e ritmos mais melódicos e as reações são variadas: há os que pulam, que dançam, que levantam os braços, gritam, choram, cantam... enfim, a tática da luz apagada funciona mesmo.
Após o período de louvor, um membro da igreja vai até o púlpito para dar um testemunho, ou seja, contar a respeito de uma graça alcançada. A partir daí já percebemos a proposta da igreja: clareza e descontração. A moça que subiu ao palco, falou para as cerca de 400 pessoas presentes, como se estivesse entre amigos (com direito a muitas, muitas gírias). Terminado o testemunho, o pastor assume a reunião com uma proposta: “Vamos abrir a Bíblia no livro do tal do profeta Ezequiel? Mas se você não sabe onde fica, não esquenta, não! Eu vou ler pra você aqui.” A partir daí, fora o palavreado, o culto não diferiu em nada das igrejas tradicionais, ou seja, a mensagem em si, não era portadora de nenhuma ousadia destradicionalizante.
A certa altura do culto, sem constrangimentos ou ameaças, é aberto um espaço para os presentes ofertarem a quantia que acharem devida. Enquanto uma moça canta repetidas vezes o refrão “eu dou com alegria”, o pastor fala sobre o destino que o dinheiro doado receberá: aluguel da sede na Barra, e de um futuro outro espaço na zona sul. “A igreja se sustenta com a sua oferta!”, diz ele.
Passado esse momento de ofertas, houve a pregação de uma mensagem bíblica por aproximadamente 1 hora e meia. Com o fim da mensagem, o pregador faz uma oração e diz aos que precisam ir embora para receberem a chamada “Bênção Apostólica”. O pastor diz ainda, que o culto não iria terminar naquele momento, pois Deus ainda agiria muito naquele lugar e na vida das pessoas que ali pudessem permanecer por mais algum tempo.
Já estava perto das 23h, quando tomamos ciência de que o culto não tinha hora para terminar. Esse segundo momento do culto, contaria com a participação dos músicos para que fosse tocada um melodia repetidas vezes, enquanto pessoas eram oradas pelo pastor. Durante a oração ou “ministração”,
muitas pessoas caíam no chão, outras cantavam e algumas dançavam.
Contudo, em função do horário bem avançado, deixamos a igreja nesse dia sem que o culto tivesse terminado. Acreditamos que o mesmo terminou não antes da meia-noite.

Merece destaque a muito bem elaborada organização da igreja. Há uma alocação dos membros em grupos (ou ministérios) para distribuição das atividades da igreja, quais sejam: zeladoria, atalaias (organização dos cultos, recepção de visitantes), infantil, arte, intercessão, surf, jiu-jitsu, louvor, diáconos. Além desses grupos, há também o Ministério da Ação Social que faz campanhas de arrecadação de roupas e alimentos e visita hospitais e presídios.

No dia 21 de junho, retornamos a igreja pela manhã para confirmarmos a entrevista com o líder que estava substituindo o pastor em razão de uma viagem que fazia. Chegamos ao final do culto, mas durante o tempo que esperávamos para falar rapidamente com o referido líder religioso, observamos atentamente a ornamentação do templo já quase vazio. Trata-se de um templo bem distante dos tradicionais templos evangélicos, pois apresenta peculiaridades muito interessantes. Dentre elas, podemos relatar o cenário composto por um painel que reproduz a orla da Barra da Tijuca, o chão com um carpete que imita um gramado, alguns quadros com pinturas de ondas “radicais” e fundo do mar e como não poderia faltar, um púpito em formato de prancha de surf.
Quando conseguimos falar com o líder, aproveitamos para pedir autorização para tirar algumas fotos no culto da noite. Ele então concordou.
No retorno à igreja na parte da noite, conversamos cerca de 30 minutos com o líder e descemos para o culto onde ouvimos mais um testemunho e acompanhamos o momento do ofertório. Em seguida, recebemos um crachá para tirarmos fotos pela igreja. E feito isso, recolhemos mais alguns questionários e fomos embora.

No dia 10 de julho, fizemos contato telefônico com a líder dos jovens, Júlia, para confirmarmos nossa ida ao culto dirigido pelos jovens que ocorre todas as sextas-feiras à noite. Chegando lá, tiramos mais algumas fotos, recolhemos o restante dos questionários e assistimos um pouco do culto. Vale dizer, que esse culto é especifico para jovens e feito pelos jovens. As letras das músicas podem ser acompanhadas por uma tela que desce do teto da igreja, onde não só as letras são projetadas, mas também lindas paisagens paradisíacas.
Assim, nossas visitas a campo chegam ao fim.


Questionários
· Idade:
18 anos – 2 pessoas
19 – 1
20 – 3
21 – 2
24 – 2
26 – 2
27 – 2
28 – 1
29 – 3

· Sexo:
Feminino – 11 pessoas
Masculino – 7 pessoas

· Local de residência:
Barra da Tijuca – 6 pessoas
Jacarepaguá – 4 pessoas
Recreio – 3 pessoas
Rocinha – 1 pessoas
Vargem Pequena – 1 pessoa
Tijuca – 1 pessoa
Leblon – 1 pessoa
Cascadura – 1 pessoa


· Profissão
Estudante – 7 pessoas
Radialista
Policial
Secretária executiva
Vendedor
Promotor de merchandising
Bancário
Prof. de Ed. Física
Funcionária Pública
Hoteleira
Fonoaudióloga
Estoquista

· Por que escolheu essa igreja?
Porque há liberdade de estilos – 3 pessoas
Porque fui bem recebido – 3 pessoas
Descontração/clareza no modo de pregar a palavra – 2 pessoas
Porque a presença de Deus/Espírito Santo é real neste lugar – 2 pessoas
Porque foi feita pra mim – 2 pessoas
Não há cobrança do dízimo – 1 pessoa
Os cultos são alegres – 1 pessoa
Porque é a igreja de todas as tribos – 1 pessoa
Porque é style – 1 pessoa
Porque gostei – 1 pessoa
Porque tem pessoas iguais e mim – 1 pessoa
Porque é do surfe – 1 pessoa
Porque é muito irada – 1 pessoa
Não responderam – 2 pessoas

· Qual a importância da igreja na sua vida?
É onde ouço a palavra de Deus e alimento minha fé/ espírito – 5 pessoas
É como uma família pra mim – 3 pessoas
É onde encontro os meus amigos – 3 pessoas
Foi onde conheci Jesus – 2 pessoas
É um lugar de comunhão da galera – 2 pessoas
Transformou a minha vida – 2 pessoas
Onde encontro alegria e paz – 1 pessoa
Não consigo imaginar minha vida sem a igreja – 1 pessoa
É onde renovo as minhas forças – 1 pessoa
É um suporte espiritual – 1 pessoa
É onde recebo o que preciso – 1 pessoa

Conclusão

Com base nas visitas a campo, na entrevista realizada e nos questionários que aplicamos, podemos perceber que o perfil desses evangélicos de fato ainda passa por uma grande alteração.
Dentro da mesma congregação, é possível ver pessoas com comportamentos, trajes, posturas e linguagens diferentes. Embora o público seja majoritariamente jovem, notamos um número considerável de pessoas acima dos 29 anos nos cultos de domingo à noite, inclusive pessoas idosas.
Os jovens evangélicos mostram-se fortemente comprometidos com as atividades relacionadas à igreja, ou seja, com o louvor (os músicos), com a receptividade aos visitantes e aos membros como um todo, com as viagens, festas, etc.
Diferentemente do que é imaginado e ouvido por muitos, a igreja não pode ser vista como algo homogêneo em termos de postura, linguagem e atitudes. Muitos se apresentam indubitavelmente como pessoas que tem uma ligação explícita com o surf ou com outros esportes. Já outros, irão apresentar certa afinidade com os símbolos ligados ao rock. E muitos, por outro lado, se apresentam de maneira absolutamente tradicional e sem diferenciais aparentes.
Contudo, é inegável que essa igreja tem as suas ações voltadas para a juventude e, ao contrário do que a imagem sugere, o foco são os jovens em geral, surfistas ou não – “é a igreja de todas as tribos”, como nos respondeu um jovem membro no questionário aplicado – o que torna esse rebanho tão diverso. Tudo na igreja, desde a decoração, até a linguagem, passando pelas atividades oferecidas (jiu-jitsu, teatro, dança, surf...) reflete juventude. Uma jovem de 18 anos deu a seguinte resposta a pergunta “Por que você escolheu essa igreja” no questionário: “Deus foi tão bom que inventou uma igreja que é a minha cara, muito irada. Amo tudo o que tem nela!”
Outro atrativo para os jovens é a (relativa) liberdade de que dispõem na igreja devido a (aparente) doutrina flexível. Como a igreja não se coloca contra qualquer tipo de elementos estéticos (piercings, tatuagens, determinados cortes de cabelo e roupas...) ou ritmos musicais, ao entrar na igreja, não se faz necessária ao jovem, uma mudança externa, o que, observamos nos questionários, é muito valorizado por eles. Destacamos aqui a resposta de uma jovem de 20 anos: ”O Bola de Neve é uma igreja onde você é recebido com amor, além de dar lugar à liberdade. Religião não muda seu estilo, seu jeito, Jesus muda só o nosso coração, o restante é conseqüência.”
Mas o aspecto que mais chama a atenção na Bola de Neve, definitivamente, é a linguagem. Percebemos que não há qualquer esforço por parte de nenhum participante da igreja para manter uma linguagem formal, ao contrário, fizeram da descontração uma marca pessoal. Expressões como “Deus operou um milagre irado na minha vida!” ou “Esse culto tá bombando!” são ditas com naturalidade durante os cultos. As complexas teorias teológicas também passam longe das reuniões: as mensagens são trazidas da forma mais clara possível e, geralmente, de modo divertido.
Esse conjunto de elementos faz da Bola de Neve Church um cenário muito propício para que os jovens se sintam mais a vontade em freqüentar uma igreja evangélica. Mas, por trás de toda essa pintura inovadora, ainda persiste uma boa parte da doutrina evangélica tradicional: nada de bebidas alcoólicas, palavrões, músicas profanas, baladas, sexo antes do casamento e namorados não-convertidos.
Há um esforço (não admitido por seus líderes religiosos) em atrelar a imagem da igreja à juventude, o que acaba por ter um duplo resultado: faz com que, em um primeiro momento, as pessoas duvidem da seriedade da igreja (como fez Rodolfo Abrantes e, admitimos, nós também) e, por outro lado, atrai jovens em busca de novas formas de expressão da fé.

2 comentários:

  1. Não tenho muito a dizer.
    O que vimos acima são fatos.
    Pessoas que encontraram uma forma de seguir a Deus.
    Certo ou errado, o fato é que não podemos julgar, mas sim respeitar ... por mais estranho que possa parecer.
    Parabéns pelo trabalho!
    Muito bem elaborado ... eu disse que seria difícil não atingirem nota máxima ... agora acho impossível!

    Continuem assim!

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  2. Esqueci de pôr meu nome!
    hehehehe ....

    Junior

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